Por: Janete Manacá
De tudo que existe numa casa, a
Janela é o que mais me fascina. Quantas coisas na vida podemos
contemplar, sem ao menos de casa sair, apenas olhando para além das
janelas. Mas cada olhar com sua convicção. Desde tenra idade eu ouvia muitas
histórias que eram contadas baseadas em olhares por trás de uma janela.
Uma janela tem muitos encantos e tudo
depende do uso que se faz dela. Conheço lindas exposições de fotografias e
pinturas de janelas. Lembro-me das serenatas com românticas juras de amor na
calada da madrugada na frente de uma janela. Jovens apaixonados que em
companhia de seu violão se arriscavam entoando doces cantigas de amor na
expectativa de ver a face do ser amado emoldurado na janela.
Receber uma serenata era a mais
sublime declaração de amor. E quando isso acontecia principalmente nas pequenas
cidades, no dia seguinte era motivo de muitos comentários, além de suspiros
apaixonados de jovens que acreditavam merecer acordar no meio da noite com o
canto amoroso do bem amado.
Mas como cada ser vivente possui a
sua própria janela, a ela ele concede valor de acordo com o seu interesse. Há
quem se inebria com um pôr do sol. Mas há também aquele que sabe tudo sobre a
vida do seu vizinho por exemplo. E, o mais interessante é aquele que por tão
corriqueiro hábito acaba sendo testemunha ocular de crime ou violência,
geralmente passional.
Quantas recordações eu tenho das
janelas da existência. A benção dos pais, o adeus de amigos que partiram, o
olhar enamorado do primeiro amor, as ações desaprovadas aos olhos maldosos dos
vizinhos, as flores desabrochando no jardim, as dores da alma na passagem do
outono, o olhar perdido no infinito com saudade de um ente querido, e tantos
outros acontecimentos.
Há quem diga que quando uma janela se
fecha, abrem-se muitas portas, mas não é a mesma coisa. É na magia do espaço de
uma janela aberta ou por entre suas frestas que se ressignifica o
cotidiano e se aprende a manter segredo de fatos comprometedores.
Entre o ser que observa e a janela há
uma cumplicidade, há ainda um encantamento, e muitas vezes há algo tão
grandioso que desperta o sentimento de gratidão. Quem nunca contemplou de uma
janela a lua, as estrelas, os relampados e os mistérios da escuridão? Se a
única certeza que se tem da vida é a finitude da curva da estrada ao escurecer,
eleja a sua janela e permita se contagiar com as belezas de cada amanhecer.
Nessa mágica janela
Passo os dias a contemplar
É como cinema na minha aldeia
Tudo que vejo faz-me rir ou chorar
Quantos espetáculos eu já assisti
sem sair desse lugar
são histórias do cotidiano
e não há em livros para contar
Cada dia é diferente
Tem espetáculos originais
Tragédias motivadas por ciúmes
Amor que desafia o mundo
Traição, covardia e paixão
Paisagens pitorescas
E muito sangue, suor e lágrimas
Escondidos sob este chão
Mas nem sempre a janela está aberta
Às vezes assisto da fresta
E como testemunha ocular
Passo horas a imaginar
Tudo poderia ser diferente
Por que a violência aqui quis morar?
Mas não consigo resposta
Não há para quem perguntar!
Mas viver nesse povoado
Longe do rio e do mar
Tudo passa a ser diversão
E os olhos às vezes sem direção
Perdem o senso para criticar
Mas há algo inexplicável
Que não canso de reverenciar
É o nascer e pôr do sol
Que dão vida a esse lugar
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