segunda-feira, 13 de agosto de 2018

A natureza aos olhos do menino pantaneiro


Por: Janete Manacá
Fotos de Henrique Magalhães   
         
Todo artista é especial e consegue adentrar dimensões inimagináveis. Estão sempre a reinventar o mundo aonde encontra-se inserido e emprestar a este uma expressiva e indescritível roupagem. O seu olhar possui um quê de encantamento que, por certo, faz morada em outras galáxias. Ele vê o invisível, dá sentido ao que não é e deixa o mundo com os olhos arregalados de admiração e prazer.



Além de fazer do seu ser uma morada  universal, ele consegue estabelecer colóquios surreais que florescem a minha, a sua, enfim, a nossa imaginação. E por meio do diálogo coletivo, que nasce entre o artista, o pincel, as cores, a vida que emerge da arte e o observador que aprecia, é possível experimentar a transcendência.

Quando estamos diante de uma obra de arte, aflora do nosso sentir, uma delirante fascinação que nos arrebata. E nesse devaneio chegamos a desejar o poder de visão que faz morada na mágica retina do olhar artístico. Então nos entregamos a sedução sem nenhuma resistência. E não nos resta dúvida: é amor a primeira vista!
         
Eu tive a honra e o prazer de conhecer o artista plástico, Henrique Magalhães, 20 anos, nascido em Campo Grande, mas criado na Comunidade de Capoeirinha, município da região pantaneira de Barão de Melgaço/MT. Trata-se de um menino com talento milenar. O amor e o respeito à natureza ele aprendeu com a avó materna, dona Cesarina. E esse sentimento transborda em toda a sua criação artística.
         
Henrique, podemos dizer, ainda é um menino, mas já traz em si refinados traços artísticos em cada composição. Desde tenra idade já apreciava brincar com desenhos e cores para compor o mundo que o cercava. Retrata a simplicidade do seu dia a dia e oferece um novo significado a tudo que faz. O pantanal é sua paixão, seu templo sagrado. Imerso em suas entranhas, ele sacia a alma e oferece asas à inspiração. Hoje, o seu maior sonho é realizar uma exposição.

Os pássaros nos remetem ao paraíso perdido em algum lugar do passado e nos faz acreditar que é possível reconquistá-lo novamente. E assim fazer dessa vida um lugar de harmonia, beleza e paz que requer de cada um de nós respeito, compromisso e cuidado.
         
Seus peixes trazem a recordação dos rios calmos e transparentes, sem  poluição, das nossas longínquas e felizes infâncias. Quantas horas ficávamos sentados à beira dos riachos de águas cristalinas, sozinhos ou acompanhados de amigos apreciando esses habitantes subaquáticos a brincarem nas águas doces do útero da bela Gaia.

As serpentes se apresentam como bailarinas pantaneiras libertas.  Revestidas de memorável beleza desmistificam o medo que sentíamos dessas ágeis e encantadoras criaturas. Ao vê-las tão deslumbrantes, mimosas e coloridas despertamos em nós a pureza da infância adormecida no adulto que somos. E um saudoso desejo de rolar no barro e brincar de esconde-esconde toma conta do nosso corpo. Sua arte exerce um certo enfeitiçamento no nosso fragmentado sentir.
         
A harmonia e a paz dessas serpentes pantaneiras, em seu habitat, reacendem, em nós, a esperança no cuidado com um meio ambiente equilibrado para a preservação de toda a espécie de vida. Henrique Magalhães consegue, por meio da sua arte, nos chamar a atenção para a necessidade desse cuidado que se faz necessário.

A magia e a sensibilidade que faz morada em cada obra de arte de sua autoria nos convidam a uma eminente viagem, com a intenção de desbravar outras possibilidades ali existentes. Possibilidades estas que, no estresse de cada dia, deixamos escapar pelos vãos dos dedos. E são tantas!
         
Não há como não se emocionar com a sua arte, que nos move e facilita um novo   percurso
por lugares nunca dantes explorados. Tudo isso devido ao rigor imposto pelo tic-tac do relógio que inconvenientemente rege a sacralidade da nossa existência e muitas vezes nos tornam verdadeiros autômatos.

Diante de cada criação somos provocados a sair do nosso horizonte habitual para adentrar outros desafios, muito além do nosso restrito campo visual. Passamos a uma outra dimensão, que nos permite a atemporalidade. Para tanto é mister nos aventurarmos numa viagem que nos instigue a explorar ousadamente os nossos cinco sentidos, abstrair a essência e enfim chegarmos ao deleite.

Nessa natureza ressignificada sob a ótica do artista, os peixes, felizes, nadam despreocupados. Aqui eles estão livres da depredação humana que insiste em destruir a serenidade de recantos de paz, como os rios. Muitos seres humanos, infelizmente, ainda não conseguem entender que eles também são parte intrínseca dessa natureza, portanto, guardiões.
         
As suas flores são tão especiais que despertam em nós o desejo de colhê-las
das telas para enfeitar os nossos jardins, ou colocá-las no vaso de porcelana sobre a mesa da sala para o chá da tarde em companhia do bem-amado.
        
As flores celebram o encontro com a serenidade pulsante de outras formas de vidas. O pintado faceiro, entre a folhagem, segue sua trilha aquática com a elegância que lhe é peculiar. Todas as espécies de peixes, no reino da natureza, aos olhos do menino artista convivem em paz, submersas no útero da generosa Mãe Terra.

Por certo, feliz, Gaia reverencia o paraíso possível na reconstrução artística desse atento, sensível e talentoso menino, que usa e abusa das cores do arco-íris para dar um novo e revigorante tom aos habitantes ameaçados desse infinito coração planetário.

Contato:
Henrique Magalhães
Técnica: Acrílica sobre papel
Cuiabá – Mato Grosso
Telefone: 65 9 9203-2211



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