Por:
Janete Manacá
Fotos
de Henrique Magalhães
Todo artista é especial e consegue
adentrar dimensões inimagináveis. Estão sempre a reinventar o mundo aonde
encontra-se inserido e emprestar a este uma expressiva e indescritível
roupagem. O seu olhar possui um quê de encantamento que, por certo, faz morada
em outras galáxias. Ele vê o invisível, dá sentido ao que não é e deixa o mundo
com os olhos arregalados de admiração e prazer.
Além de fazer do seu ser uma morada universal, ele consegue
estabelecer colóquios surreais que florescem a minha, a sua, enfim, a nossa
imaginação. E por meio do diálogo coletivo, que nasce entre o artista, o
pincel, as cores, a vida que emerge da arte e o observador que aprecia, é
possível experimentar a transcendência.
Quando estamos
diante de uma obra de arte, aflora do nosso sentir, uma delirante fascinação
que nos arrebata. E nesse devaneio chegamos a desejar o poder de visão que faz
morada na mágica retina do olhar artístico. Então nos entregamos a sedução sem
nenhuma resistência. E não nos resta dúvida: é amor a primeira vista!
Eu tive a honra e o prazer de conhecer
o artista plástico, Henrique Magalhães, 20 anos, nascido em Campo Grande, mas
criado na Comunidade de Capoeirinha, município da região pantaneira de Barão de
Melgaço/MT. Trata-se de um menino com talento milenar. O amor e o respeito à
natureza ele aprendeu com a avó materna, dona Cesarina. E esse sentimento
transborda em toda a sua criação artística.
Henrique, podemos dizer, ainda é um
menino, mas já traz em si refinados traços artísticos em cada composição. Desde
tenra idade já apreciava brincar com desenhos e cores para compor o mundo que o
cercava. Retrata a simplicidade do seu dia a dia e oferece um novo significado
a tudo que faz. O pantanal é sua paixão, seu templo sagrado. Imerso em suas
entranhas, ele sacia a alma e oferece asas à inspiração. Hoje, o seu maior
sonho é realizar uma exposição.
Os pássaros nos remetem ao paraíso
perdido em algum lugar do passado e nos faz acreditar que é possível
reconquistá-lo novamente. E assim fazer dessa vida um lugar de harmonia, beleza
e paz que requer de cada um de nós respeito, compromisso e cuidado.
Seus peixes trazem a recordação dos
rios calmos e transparentes, sem
poluição, das nossas longínquas e felizes infâncias. Quantas horas
ficávamos sentados à beira dos riachos de águas cristalinas, sozinhos ou
acompanhados de amigos apreciando esses habitantes subaquáticos a brincarem nas
águas doces do útero da bela Gaia.
As serpentes se apresentam como
bailarinas pantaneiras libertas.
Revestidas de memorável beleza desmistificam o medo que sentíamos dessas
ágeis e encantadoras criaturas. Ao vê-las tão deslumbrantes,
mimosas e coloridas despertamos em nós a pureza da infância adormecida no
adulto que somos. E um saudoso desejo de rolar no barro e brincar de
esconde-esconde toma conta do nosso corpo. Sua arte exerce um certo
enfeitiçamento no nosso fragmentado sentir.
A harmonia e a paz dessas serpentes
pantaneiras, em seu habitat, reacendem, em nós, a esperança no cuidado com um
meio ambiente equilibrado para a preservação de toda a espécie de vida. Henrique
Magalhães consegue, por meio da sua arte, nos chamar a atenção para a
necessidade desse cuidado que se faz necessário.
Não há como
não se emocionar com a sua arte, que nos move e facilita um novo percurso
por lugares nunca dantes explorados. Tudo isso devido ao rigor imposto
pelo tic-tac do relógio que inconvenientemente rege a sacralidade da nossa
existência e muitas vezes nos tornam verdadeiros autômatos.
Diante de cada criação somos provocados
a sair do nosso horizonte habitual para adentrar outros desafios, muito além do
nosso restrito campo visual. Passamos a uma outra dimensão, que nos permite a
atemporalidade. Para tanto é mister nos aventurarmos numa viagem que nos
instigue a explorar ousadamente os nossos cinco sentidos, abstrair a essência e
enfim chegarmos ao deleite.
Nessa natureza ressignificada sob a
ótica do artista, os peixes, felizes, nadam despreocupados. Aqui eles estão
livres da depredação humana que insiste em destruir a serenidade de recantos de
paz, como os rios. Muitos seres humanos, infelizmente, ainda não conseguem
entender que eles também são parte intrínseca dessa natureza, portanto,
guardiões.
As suas flores são tão especiais que
despertam em nós o desejo de colhê-las
das telas para enfeitar os nossos
jardins, ou colocá-las no vaso de porcelana sobre a mesa da sala para o chá da
tarde em companhia do bem-amado.
As flores celebram o encontro com a
serenidade pulsante de outras formas de vidas. O pintado faceiro, entre a
folhagem, segue sua trilha aquática com a elegância que lhe é peculiar. Todas
as espécies de peixes, no reino da natureza, aos olhos do menino artista
convivem em paz, submersas no útero da generosa Mãe Terra.
Por certo, feliz, Gaia reverencia o
paraíso possível na reconstrução artística desse atento, sensível e talentoso
menino, que usa e abusa das cores do arco-íris para dar um novo e revigorante
tom aos habitantes ameaçados desse infinito coração planetário.
Contato:
Henrique
Magalhães
Técnica:
Acrílica sobre papel
Cuiabá
– Mato Grosso
Telefone:
65 9 9203-2211
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